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Como conduzir um atendimento com adolescente no consultório de pediatria
27 de julho de 2022
Como conduzir um atendimento com adolescente no consultório de pediatria

Autor:

Eludivila Especialização Pediátrica

Afinal de contas, qual grupo de médicos deve cuidar dos adolescentes no consultório? A adolescência é um período de transformação e crescimento, e esse cuidado cabe não apenas ao hebiatra, como também ao médico pediatra. Durante a fase de residência, no entanto, muitos profissionais não passam por essa formação.


É comum que o pediatra acompanhe todo o desenvolvimento de uma criança, fazendo com que esse atendimento permaneça até a adolescência. Neste artigo, falaremos sobre como o pediatra pode conduzir uma consulta com um paciente nessa fase da maneira mais adequada possível.


Sensibilidade: palavra-chave para lidar com adolescentes

Quando falamos do atendimento ao público adolescente no consultório de pediatria, a sensibilidade é uma das palavras-chave para introduzir o tema. Ele precisa ser um local de acolhimento.


Durante a evolução até a vida adulta, os jovens passam por diversas questões difíceis e precisam de ajuda. Muitas vezes, a própria família não está preparada para lidar com tantas situações, que podem fugir do controle.


A adolescência é um momento de muitas transformações. É o momento em que o ser humano cria laços, entende suas responsabilidades e começa a fazer uma preparação para chegar ao amadurecimento.


A adolescência e suas fases

Existem controvérsias relacionadas ao período total da adolescência, mas ela começa ainda na puberdade. A idade, no entanto, varia de caso para caso. A puberdade é apenas uma parte desse longo processo.


Durante esse período, o jovem passa por diversos momentos complexos, e alguns comportamentos relacionados a essa fase fazem parte das queixas mais frequentes dos cuidadores nos consultórios.

Exemplos mais comuns:


  • Variação frequente de humor.
  • Busca da identidade: identificação maior com um grupo externo de pessoas do que com a própria família.
  • Tendência grupal: quando o adolescente tenta se parecer com um grupo de pessoas para que seja mais aceito.
  • Evolução sexual: quando passa a criar uma identidade e enxerga os órgãos genitais com outros olhos.
  • Distanciamento dos pais: um dos maiores gatilhos para conflitos entre a família e o adolescente.


O pediatra precisa estar preparado para lidar, de forma acolhedora, com situações que possam surgir. Esse é um período em que precisamos apoiar a família, mas com foco total no adolescente, transformando-o em protagonista.


A consulta do adolescente

A consulta do adolescente tem uma dinâmica específica e é completamente diferente das consultas na infância e na vida adulta.


Ela pode ser classificada em três momentos:


  1. No primeiro momento, o adolescente e os cuidadores conversam com o pediatra.
  2. Posteriormente,  o médico conversa a sós com o jovem, com o objetivo de deixá-lo mais seguro. Se sentir necessidade, o paciente pode falar de assuntos sobre os quais se sente mais à vontade longe dos pais;
  3. A terceira parte da consulta é feita, mais uma vez, com a presença dos cuidadores e do paciente.


Momento 1: apresentação e anamnese

Ao iniciar uma consulta, é primordial que o pediatra seja muito empático com o paciente. Uma boa forma de demonstrar empatia e proximidade é perguntar como ele gostaria de ser chamado durante a conversa.

Orientações importantes para o andamento da consulta:


  • Explicar o passo a passo da dinâmica e pedir aos responsáveis que o adolescente sempre seja avisado das consultas.
  • Ouvir atentamente o que ele tem a dizer, manter contato visual e pedir a ele que desligue os aparelhos eletrônicos.
  • Tentar quebrar o receio de se consultar com um médico.
  • Utilizar linguagem fácil e próxima do paciente.
  • Solicitar ao adolescente que responda aos questionamentos e seja participativo.
  • Trabalhar a autonomia do paciente.


Anamnese

Durante a primeira conversa com o paciente e os cuidadores, é importante falar sobre toda a rotina do adolescente. Na anamnese, alguns pontos precisam ser levados em consideração.


É muito comum que o jovem se sinta perdido durante a consulta, principalmente na primeira vez. Para facilitar o diálogo, o pediatra pode fazer perguntas direcionadas.


Pontos importantes na anamnese:


  • Relatório alimentar e de sono.
  • Elaboração de perguntas sobre a escola e os projetos de vida.
  • Levantamento do tempo de tela (qual tela, quanto tempo utiliza, ao que costuma assistir/fazer).
  • Questionamento sobre a prática de atividades físicas ou extracurriculares.
  • Abordagem sobre a composição familiar.
  • Indagação  aos cuidadores sobre a existência de problemas com o paciente que precisam ser trazidos à consulta.

Momento 2: conversa entre pediatra e paciente

O segundo momento é uma das fases mais importantes da consulta com o adolescente. Sem a presença dos cuidadores, o médico pediatra conversa a sós com o paciente, abrindo um espaço para que ele se sinta mais à vontade.


São recorrentes entre os profissionais as dúvidas sobre qual seria a forma mais adequada de conversar com o jovem, acima de tudo ao tocar em assuntos mais delicados, como a abordagem de drogas, relacionamentos e relações sexuais.


O mais indicado é que o pediatra busque trazer esses temas indiretamente, sem fazer perguntas diretas a respeito. Além disso, é importante levar em consideração a idade do paciente, já que a adolescência é um período longo e que apresenta fases distintas.


Como abordar temas delicados

Ao abordar o tema das relações sexuais, por exemplo, o médico pode iniciar a conversa fazendo uma pergunta básica: “Você sabe de onde vêm os bebês?”


É muito provável que o adolescente dê uma resposta positiva. O pediatra, então, pode se mostrar interessado em conhecer a visão do paciente sobre o assunto, começando a tirar suas dúvidas a respeito. Com o desdobramento da conversa, o jovem pode se sentir seguro e revelar se já teve alguma relação sexual.


No decorrer da consulta, é muito importante conversar com o jovem sobre relacionamentos. Como está psicologicamente? Como é o relacionamento com os pais? Como é a relação com os colegas na escola? Gosta do corpo? Mostrar-se sempre disponível para dialogar é fundamental.


Primeira menstruação: Como orientar sua paciente no consultório?


Exame físico

O exame físico é um momento muito relevante da consulta. No entanto, é importante citar que o adolescente não gosta de se expor. Durante o procedimento, é fundamental garantir a privacidade do paciente.


Antes de pedir licença para começar o procedimento, é indicado explicar todos os detalhes sobre como ele funciona, informando a importância de fazê-lo. Caso o jovem não se sinta à vontade e não queira realizar o exame físico, seu desejo deve ser respeitado.


Se o paciente ainda não se sentir seguro em uma nova consulta, talvez seja o momento de fazer a indicação de outro colega para cuidar do caso.


É imprescindível que o exame físico seja feito de forma completa e leve diversos pontos em consideração. O assunto é tratado de maneira mais detalhada no curso Adolescente no Consultório de Pediatria da Eludivila.


Momento 3: orientações para o paciente e os cuidadores

Neste último momento da consulta, é interessante que o pediatra faça uma série de orientações ao paciente e aos pais.


Higiene

Com a chegada da adolescência e o fim da infância, muitos pais acreditam que os filhos já aprenderam tudo sobre higiene e deixam esses cuidados para os jovens. Nem sempre, entretanto, eles têm conhecimento suficiente para isso.


Sono

Os adolescentes estão dormindo cada vez menos, seja por interferência de atividades sociais, seja pelo acesso à tecnologia. É comum que o jovem utilize o celular na hora de dormir, além de ter passado horas nas telas durante o dia.


Espera-se que os jovens durmam entre 8 e 10 horas por dia, mas muitos deles não cumprem essa carga horária. A privação de sono gera impacto negativo na rotina do paciente e muitas vezes traz consequências como alteração de humor, ganho de peso, uso de álcool e substâncias e distúrbios de aprendizagem.


Rotina e conduta

Já ao final da consulta, o pediatra pode elaborar uma ideia de rotina mais saudável para o jovem, levando vários pontos em consideração. É importante que esses pontos sejam explicados principalmente para o paciente, delegando essa responsabilidade.


Ética e sigilo na consulta com o adolescente

Ao atender um adolescente no consultório pediátrico, é fundamental que o médico esteja disponível para ouvir, acolher e orientar o paciente, sem julgamentos.


Durante a conversa a sós entre o pediatra e o jovem, é possível que assuntos delicados sejam tratados. Se for necessário quebrar o sigilo e falar de algum dos temas com os cuidadores, o paciente deve ser informado.


Deixando claro que o pediatra está ali para apoiar o paciente e protegê-lo, é indispensável explicar que a situação em questão precisa ser levada aos pais, buscando que ele compreenda a necessidade de expor o ocorrido à família.


Ao analisar se uma situação merece ou não ter o sigilo quebrado, é primordial usar o bom senso. Demonstrar empatia e se mostrar disponível para o diálogo é o melhor caminho para uma relação saudável entre pediatra e adolescente.


Esteja preparado para atender seu paciente

Neste artigo, falamos sobre a importância do médico pediatra no desenvolvimento do adolescente. Ele enfrenta diversas situações difíceis durante esse período e precisa contar com o apoio e o acolhimento do profissional.


Embora seja de extrema relevância, o assunto não ganha tanto destaque nas residências  médicas e muitas vezes faltam informações de qualidade para que o atendimento se dê da maneira mais adequada possível.


Para suprir essa demanda, a Eludivila elaborou o curso Adolescentes no Consultório de Pediatria, ministrado pela hebiatra Marina Manin. O objetivo do curso é trazer o mundo do adolescente para os profissionais de pediatria, orientando sobre como lidar com esse público no consultório.

Por Eludivila Especialização Pediátrica 18 de junho de 2024
A Displasia do Desenvolvimento do Quadril em bebês (DDQ) é uma doença que acomete 5 a cada 100 crianças e que pode levar a dificuldade de mobilidade, dor e outros problemas ortopédicos. Neste artigo especial da Eludivila Especialização Pediátrica , revisado pelo Ortopedista Pediátrico, David Gonçalves Nordon (CRM 149.764) , reunimos as principais informações que pediatras gerais precisam saber a respeito da displasia do desenvolvimento do quadril em bebês. Assim, você poderá fazer um diagnóstico e tratamento corretos, além de fornecer boas orientações aos pais e cuidadores. O que é Displasia do Desenvolvimento do Quadril (DDQ)? Displasia do Desenvolvimento do Quadril (DDQ), conhecida antigamente como luxação congênita do quadril, é uma patologia ortopédica, que acontece quando a curva do acetábulo não se desenvolve corretamente . Isto é, a cavidade da articulação do quadril se apresenta de maneira que facilita uma subluxação ou luxação do quadril. Todas as variações dentro desse espectro se enquadram, atualmente, no que definimos como DDQ. O resultado são problemas de estabilidade, mobilidade, posicionamento da articulação, dores articulares, dificuldade do bebê para engatinhar, dentre outros. Em 60% dos casos, a DDQ acontece do lado esquerdo, 20% no direito e 20% dos casos são bilaterais. A propensão ao quadril esquerdo se dá pela posição em que a maioria dos bebês se encontram no útero, causando uma pressão do sacro nesse lado. Causas e Fatores de Risco da DDQ A Displasia do Desenvolvimento do Quadril em bebês pode ter algumas causas, dentre elas a posição intrauterina do feto , que pode forçar o quadril a sair do lugar, e fatores hereditários , que causam predisposição genética. Podemos subdividir os fatores de risco associados ao desenvolvimento da DDQ em quatro grupos: 1. Alterações do continente (útero) Quando o útero aperta o quadril do bebê, o que pode ser causado por diversos motivos, como: Oligoidrâmnio, quando o volume de líquido amniótico está abaixo do esperado para a idade gestacional e causa essa pressão; Primeira gestação, pois o útero costuma estar mais rígido; Útero com alguma fibrose, cicatriz ou deformidade; Gestação gemelar. 2. Fatores de risco relacionados ao conteúdo É o caso de gestações com bebês que: São grandes para a idade gestacional (GIG); Movimentam-se pouco dentro do útero, por diversas razões; Com apresentação pélvica, posição que pode aumentar em até 21 vezes o risco de DDQ. 3. Fatores genéticos Em relação à predisposição genética, é possível apontar como fator de risco para a displasia de quadril: Bebês do sexo feminino, que aumenta em até 9 vezes o risco de DDQ, já que os hormônios circulantes femininos (estrogênio e progesterona) aumentam a flexibilidade das articulações e a frouxidão ligamentar; Histórico familiar positivo, que pode ser, na verdade, desde um familiar que efetivamente tratou uma DDQ, até algum familiar com um desgaste precoce do quadril (ou seja, artrose do quadril em torno dos 30 a 50 anos), que geralmente é causada por uma displasia leve não diagnosticada e, portanto, não tratada na infância. 4. Fatores extrauterinos São os fatores que acontecem após o nascimento do bebê e que devem ser orientados pelo pediatra, como: Uso do “charutinho” com as pernas juntas e esticadas; Uso de outros acessórios que podem contribuir para que o quadril do bebê saia do lugar, como carregadores e andadores. Leia também: Assimetria craniana em bebês: Guia completo para pediatras Sinais e Sintomas da Displasia do Quadril Após avaliar os fatores de risco, os pediatras devem estar atentos a alguns sinais que os bebês podem apresentar, como: Assimetria das nádegas (a assimetria das pregas isoladamente, porém, não tem significado clínico; precisa haver outros sinais para se pensar em DDQ); Limitação de movimento do quadril, com dificuldade na abertura das pernas (pode ser observado na troca de fraldas, por exemplo); Claudicação. Como fazer o diagnóstico e avaliação da DDQ Bom, mas então, como fazer a avaliação em consultório para detectar uma possível DDQ no bebê? Além da observação dos sintomas apontados pelos pais, é necessário fazer o exame clínico, além de solicitar ultrassonografia do quadril . Dentre os principais métodos diagnósticos em consultório estão: Manobra de Ortolani: detecta o deslizamento posterior do quadril para dentro do acetábulo e mostra o quadril luxado. Indicado para realização até os três meses de idade do bebê. A manobra de Ortolani, entretanto, é bastante falha: ela perde o diagnóstico em 95% dos casos leves e 50% dos casos graves, com o quadril efetivamente luxado; Manobra de Barlow : detecta o deslizamento do quadril para fora do acetábulo, evidenciando o quadril que é passível de luxação e também deve ser feito até os três meses. É igualmente pouco confiável; Manobra de Hart: após os três meses, esse é o exame mais indicado, já que Ortolani e Barlow normalmente estão negativos, mesmo que o quadril esteja luxado. Se você quer aprender a realizar as manobras adequadamente, a Eludivila conta com aulas completas na Especialização em Puericultura com Patologias, com módulo específico para ortopedia. Acesse agora e amplie o seu conhecimento para além da residência médica Quando pedir um ultrassom do quadril? No Brasil, não há um protocolo específico de quando pedir o ultrassom. Aqui no Eludicar Centro Materno-Infantil, a conduta é fazer o screening universal , ou seja, solicitamos o ultrassom para todos os pacientes, a partir das 3 a 4 semanas de vida do bebê. Nos casos em que o bebê apresenta fatores de risco (apresentação pélvica, oligoidrâmnio, gemelares), o ideal é fazer a ultrassonografia na primeira semana de vida. Para definir o tratamento, você pode utilizar o método Graf para ultrassonografia articular, que divide em graus o nível de alteração: 1A e 1B: quadris maduros 2A: pode ser dividido em 2A+ (deve-se repetir o exame em um mês) e 2A- (recomendamos o tratamento, conforme orientações do protocolo europeu, proposto pelo Dr. Graf em 2022, já que há evidências de uma possível artrose no futuro); 2B: quadril alterado após os três meses de idade, que indica tratamento; 2C, 2D, 3 e 4: quadril alterado, que necessita tratamento. Interpretar o resultado do ultrassom pode ser desafiador, por isso recomendamos assistir ao estudo de caso clínico realizado pelo Dr. David Nordon, ortopedista pediátrico do Eludicar. Tratamento e Manejo da DDQ
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